Um Sonhador



Um Sonhador
Por Helio Camargo Conceição


Chame-me de tolo. Ou então sonhador. Para muitos, dá no mesmo. Nunca entendi essa banalização. Talvez seja porque eu penso que o mundo poderia ser um bom lugar para viver. Talvez seja por outro motivo qualquer. Apenas imagino qual a razão.
Não deve ser porque eu preciso acreditar todo dia que o mundo que vejo ao sair de casa não é um local destinado à destruição. Não.
Não é porque eu consigo exprimir meus sentimentos em palavras exaltadas com tamanha facilidade, tentando levar as pessoas a ver as coisas como eu vejo. Afinal, se nos entregarmos de uma vez à desilusão, que será de nós? Para quê vivemos, então? Não haveria mais necessidade de pisar nesse chão, sentir esses cheiros ou ver essa paisagem dia após dia.
Algumas pessoas pensam que eu poderia ser um revolucionário. Mas eu não sinto a necessidade de mudar nada. Então mudam meu apelido para acomodado. Mas eu não sou do tipo que espera o mundo se destruir, apenas observo o mundo funcionar. Observo o quanto as pessoas ainda vivem suas vidas, apesar do quanto reclamam. No quanto somos capazes de amar e sermos amados, dia após dia, mesmo tendo que viver no mundo em que vivemos.
Mudam então meu apelido para filósofo. Chamam-me de romântico. E, quando mostro algumas das características das quais os românticos muitas das vezes se esquecem, então me chamam de realista ou pessimista.
Mas isso só demonstra o quanto nós somos capazes de sentir. Eu somente quero mostrar a todos que o mundo é construído através de nossos atos.
E, quando eu paro e olho à minha volta, o tempo parece me acompanhar. Como se não houvesse passado ou futuro. Como se tudo o que importasse no universo estivesse concentrado na minha pessoa. Agora sou um egocêntrico.
Mas porque então não posso ser um sonhador romântico, um filósofo egocêntrico, um revolucionário tolo, tudo ao mesmo tempo?
Porque todos sentem tamanha necessidade de me contrariar? Porque não podemos simplesmente pararmos de tentar classificar uns aos outros e simplesmente nos ajudarmos, sem intenção de tirar vantagem uns dos outros? Porque alguns têm de ter tanto e outros tão pouco?
Mas ninguém me explica. Sou apenas um tolo. Não tenho direito de querer ver como seria um mundo mais igual, porque o homem tem necessidade se sentir superior aos outros. Por isso somos classificados. Por isso sentimos necessidade de ser separados em classes, para podermos nos sentir inferiores às classes mais inferiores.
E todos perdemos. Porque, quanto mais poder tivermos, ainda não será suficiente. Porque o sentimento que o homem procura quando tenta conquistar alguma coisa simplesmente não existe. E, quando ele consegue aquilo que tentava conquistar, simplesmente chega à conclusão de que só conseguirá se sentir satisfeito subindo mais um degrau.
E todos acabamos morrendo no meio dessa escada.

Mas vou parar de devaneios por enquanto. Sou apenas um tolo. Apenas um sonhador.

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