Desculpe-me


Sei que minhas desculpas não significam nada. Sei que nenhum gesto irá te tocar de verdade.
Ainda assim, peço desculpas.
Minhas mãos podem tremer sobre seu corpo gélido. Meu hálito quente pode cortar lentamente o ar frio nesse cinza morto. Minhas lágrimas podem cair sobre seu corpo. Eu posso olhar seu rosto sem entender como tudo isso é real.
E novamente vou pedir desculpas. Mesmo não significando nada.
Meu rosto se contorce em dor, também sem significado. Minha boca treme, tentando parar de pedir para sussurrar o seu nome sem parar. Se eu fosse mais forte, se eu fosse diferente...
Meu amor! Desculpe-me!
Eu dei o melhor de mim, mas não foi o bastante. Minhas pernas tremeram diante do que aconteceu. Tentei fazer com que os ladrões atirassem em mim, mas não foi o suficiente.
Desculpe-me. É só o que peço.
Nessa noite fria. De joelhos em meio a essa escuridão sem fim. Em meio a esse vazio desolador
A ajuda vai demorar. O telefone, ainda com o número da emergência na tela, pende em minha mão.
Por favor… Perdoe-me.
Esqueça o tiro alojado em meu corpo, fazendo meu corpo fraquejar. E realize esse último desejo. Meus olhos desfocam com as lágrimas, perdendo um pouco de vista os seus, agora vidrados no infinito. O tiro em seu peito faz o líquido vermelho manchar minha mão, que em vão tenta conter o sangramento.
Desculpe-me.
Meu corpo insiste em cair ao lado do seu. Minha mão ainda segura a sua, mas a outra desiste de tentar parar o sangramento. Meus olhos encaram o céu sem estrelas. Esses olhos que nunca verão o dia de amanhã. Esse corpo que não irá mais andar, agora se despede do mundo. E esses lábios que nunca irão dizer mais nada se abrem em duas últimas frases:
-Eu te amo. Por favor, me desculpe.

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