13 Observações sobre 13 Reasons Why

13 Coisas sobre 13 Reasons Why
Celso Naves Esault Jr.


13 Reason Why: A série, não o livro.
Cuidado com a leitura. O texto a seguir contém SPOILERS. A experiência não será prejudicada, mas para os xiitas pode ser desagradável.


Vamos tirar o básico do caminho logo no primeiro parágrafo. Segundo o Wikipedia: 13 Reasons Why (Os 13 Porquês [...]) é uma série americana produzida pela Netflix, baseada no romance Thirteen Reasons Why escrito por Jay Asher. [...] é a história de Clay Jensen, um estudante do ensino médio da Califórnia, que, ao voltar para casa da escola um dia, encontra um pacote enviado anonimamente em sua porta. Após a abertura, ele descobre que é uma caixa de sapatos contendo sete fitas cassete gravadas pela falecida Hannah Baker, sua colega que recentemente cometeu suicídio. As fitas foram inicialmente enviadas para um colega com instruções para passá-las de um estudante para outro, no estilo de uma carta em cadeia. Nas fitas, Hannah explica a treze pessoas como elas desempenharam um papel na sua morte, apresentando treze razões que explicam porque ela se matou.


A seguir, seguem 13 observações que fiz sobre a série. Alguém se importa? Nem eu. Alguém vai ler mesmo assim? Talvez. Então vamos às observações:


Observação 01. O Piloto. A série começa mal, com um episódio inicial apático e que não representa, de maneira alguma, a jornada que virá a seguir. Talvez pela necessidade de falar coisas demais em um único episódio, a série falha em entregar algo que entretém (ao contrário de tudo o que seguirá a partir daí) e, por pouco, não me perdeu. Não é um episódio piloto ruim, pelo contrário, é um episódio competente e, até certo ponto, bem feito. Porém, não é nada além de “bom” e, para uma série que trata sobre assuntos tão sérios e faz indagações tão profundas, começar dessa maneira pode espantar o público, que dá o “Play” preparado para uma jornada de reflexão e sentimentalismo e quase cai em um poço de drama adolescente.


Observação 02. Flashbacks. Por se tratar de uma série que fala sobre reflexões de uma garota que se matou, é evidente que a trama não se passa, em grande parte, no presente. A solução encontrada é revisitar os acontecimentos passados com Hannah por intermédio de “flashbacks” induzidos pelas narrações contidas nas fitas ou elementos que despertem lembranças nos personagens. A observação aqui diz tão somente quanto à competência da produção do show em utilizar essa ferramenta sem esgotá-la ou trazer o espectador à exaustão, com uma utilização que, em muitos momentos, deixa um gosto de “quero mais”. Ao contrário de outras séries, aqui o que se tem é um jogo interessante, onde tanto passado quanto presente parecem sempre criar tramas e subtramas para trabalhar, sem deixar a peteca cair ou parecer “cansar” em um dos dois pólos.


Observação 03. Os personagens secundários. O Show (e, presumo eu, o livro também) tem diversos personagens secundários e, justamente pela proposta da série, cada um deles desempenha um papel importante na vida da protagonista (Hannah). E, nesse caminho, o desenvolvimento dos personagens secundários emerge. Alex, Jessica, Zach, todos eles têm seu arco dramático próprio (alguns, inclusive, não se encerram com o correr dos créditos após o episódio final) e é evidente a maneira como suas vidas se alteram antes e depois que as fitas passam pelas mãos do protagonista. Isso agrega valor a tudo o que é dito e feito por esses mesmos personagens e faz com que acompanhá-los seja tão atraente quanto acompanhar Hannah e Clay (tá bom, talvez não tão atraente quanto, mas consegue chegar perto disso).


Observação 04. O personagem central. Clay é o co-protagonista da série e catalisador dos eventos do “presente” e seu pior defeito é que não escuta as fitas com a velocidade que o espectador deseja. Talvez por seu amor a Hannah, talvez por seus ataques de pânico, talvez pelo medo de ter feito algo errado e, por isso, estar nas fitas. Talvez por pura covardia e por não querer escutá-la dizendo o que ele teria feito de tão terrível que contribuiu para o suicídio dela. São tantas possibilidades que não precisam ser faladas expressamente que é simples anotar que Clay não é um personagem simples. Apesar de ser o tradicional “moço bonzinho”, isso não basta para defini-lo, o que é mais que satisfatório, ainda mais em uma série que não se esforça para quebrar o clichê em que ele poderia se tornar. Ou, pelo menos, não é aparente tal esforço. E isso é bom. Porque, assistindo a série, a impressão que se tem é a de que Clay é real. Que é possível um garoto assim existir e que as escolhas dele, embora nem sempre corajosas ou mesmo inteligentes, são compreensíveis. Que a maneira como ele lida com seus problemas, com seus medos e seus desejos é algo muito próximo do real. Isso faz com que cada passo, cada fita, cada dia e obstáculo superado, pareça também uma conquista para quem assiste. E não é isso que um protagonista deve fazer?


Observação 05. Temas Pesados. A série não tem medo de abordar temas pesados ou controversos. Homossexualidade, Estupro e consequências mortais de atos impensados são recorrentes e não há medo medo ou mesmo artificialidade na maneira como tais temas são tratados. A série é competente e demonstra maturidade ao lidar com esses assuntos, sem soar forçada e fazendo com que o impacto, justamente por causa dessa maturidade e naturalidade, seja mais forte, causando um choque permanente no espectador, que se vê diante de perguntas reais feitas com seriedade.


Observação 06. Romance. A maneira como o romance precisa ser guiado é complicada. Justamente por estar morta, Hannah não pode corresponder ao amor de Clay e isso tira da mão dos roteiristas uma das maiores cartas de todo roteiro. Entretanto, eles driblam essa aparente problemática e, ao invés de se limitar a não incluir um interesse romântico na série, eles se aproveitam do drama de não ter o amor próximo para fazer de Clay o amante não correspondido, ou, ao menos, o amante distante. Hannah está sempre lá, a dúvida sobre a maneira como ela se sente em relação a ele não é respondida antes do meio da série e o desenvolvimento do relacionamento dos dois é feito através de flashbacks. É interessante e divertido descobrir a evolução e transformação dos sentimentos dos dois na tela.


Observação 07. O Drama. Esse é um ponto positivo e negativo ao mesmo tempo. Como já foi dito, a série não evita temas pesados e os trata de maneira a maximizar o drama, por isso o impacto é maior. O lado positivo é que isso causa uma impressão profunda no telespectador, e faz com que o desejo por mais cresça de maneira absurda. O lado negativo é que, algumas vezes, a impressão é profunda demais, trazendo um sentimento triste e uma realização de que talvez o entretenimento não está apenas “entretendo”, mas entristecendo também. Isso não é necessariamente ruim, já que essa parece ter sido a intenção e, como alguém que escreve, apenas posso ter admiração por uma conquista dessa espécie, porém, tinha que deixar a observação da sensação ruim de tristeza que me acompanhou após encerrar a série e realizar que o mundo não é um lugar muito legal.


Observação 08. A Gravação de Bryce. Eu disse na observação nº 04 que as escolhas e atitudes de Clay são críveis. Isso realmente se aplica, com exceção à cena que compõe essa observação. Aqui a crítica não tem motivos, nem mesmo uma raiva particularmente forte, apenas uma pontada de desapontamento. Sério? O gravador na mochila? Esse clichê, de todas as escolhas disponíveis no livro de clichês? E ainda deu certo? Poxa, Bryce, eu esperava que você fosse um vilão mais esperto, ainda mais depois de ouvir suas falas e precauções nos primeiros episódios.


Observação 09. O Suicídio. É complicado elogiar uma cena de suicídio justamente por aquilo que ela representa. Porém, é impossível não admitir que toda a sequência é poderosa e passa uma sensação de desespero poucas vezes vista, sem nunca romantizar o que é um suicídio. É difícil até explicar a maneira como a compreensão de que Hannah irá efetivamente morrer machuca o espectador e faz pensar que, embora não tenhamos admitido, todos tínhamos alguma esperançazinha de que aquela reviravolta clichê de Hollywood ocorreria e ela estaria viva no fim. É um resultado esperado, mas acompanhado de uma tristeza profunda, pois a série realmente entrega algo que se assemelha a uma pessoa real que se suicidou por não encontrar saída.


Observação 10. Passagem de Tempo. É fácil perceber que a série se passa em poucos dias - aqui me refiro ao núcleo do "presente" e não dos período visitado pelos flashbacks. Inconscientemente pegamos diversos sinais deixados pela direção do show que indicam que os eventos narrados não se passam em diversos dias. Fiquei sabendo de algumas pessoas que não pegaram tais sinais, entretanto, eles não são maioria. Pequenas marcas, como a progressão do interrogatório escolar e o machucado de Clay (principal e mais óbvio dos sinais) deixam a mensagem de que poucos dias se passaram entre o início e a conclusão da série. Vale a observação porque a primeira impressão é a de que a série se passa em um período maior de tempo, porém, com três ou quatro episódios, essa impressão se altera e fica claro que alguns dias fazem toda a diferença e permitem a conclusão do arco narrativo de forma satisfatória.


Observação 11. O carro de Tony. Que carro. Vale a observação só pelo estilo. Nada mais a acrescentar aqui.


Observação 12. O Finale. É excelente. Entenda-se por excelente o “entretenimento”. Afinal, não é excelente assistir a um suicídio realista ou realizar que morte e dor são tão ou mais presentes do que esperávamos na vida daqueles que muitas vezes nem mesmo notamos. Aqui tem de tudo: Abertura de algumas pontas, conclusão de tudo o que é realmente importante, reviravoltas, surpresas, tudo. Inclusive uma viagem em direção ao horizonte de um futuro esperançoso, como pede o gabarito. O episódio deixa algumas pontas para a próxima temporada, mas nada que prejudique a narrativa. O triste é saber que teremos de esperar (talvez) um ano até poder saber de respostas para as perguntas abertas aqui. Isso se a série tiver continuidade, pois, mesmo com um futuro relativamente aberto, a série encerrou as partes importantes e deu um fim satisfatório para a narrativa central (na minha opinião): A reação de Clay diante das fitas.

Observação 13. O Veredicto. Não poderia ser outro. Se você conseguir lidar com a tristeza e com os temas pesados, não desanime com o Episódio Piloto e assista 13 reasons why. A série tem uma qualidade dramática altíssima e apresenta um nível técnico e de desenvolvimento narrativo que não só vale a pena conferir, como é uma pena deixar passar. Se a série se encaixa no seu perfil, vá atrás. 13 reasons why não decepciona um bom fã de drama ou qualquer apaixonado por séries.

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